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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Do outro mundo

Vivo num mundo paralelo. Vivo num mundo em que todos são diferentes, ninguém se assemelha e nenhum é confundido.
Têm gostos diferentes, comportamentos e necessidades específicas.
Aqui todos são meninos, mesmo os que já têm quarenta anos, porque, em algum aspecto, todos são dependentes.
Um só repete o que ouve.
Outro passa o dia a fazer as mesmas perguntas e comentários.
Outro só diz palavrões e apalpa quem pode.
Outro é um bébé. Não fala. Só ri, chora, brinca, come e dorme.
Outro passa o dia a correr a sala ou então deitado no sofá a folhear revistas que não consegue ler.
Outro que só fala na menina que gosta, nos morangos com açúcar e no benfica.
Outra que só sabe ou apalpar ou bater em quem lhe aparece na frente.
Outra que só quer beijos e abraços.
Outra que só ri.
Outra cujos desenhos são somente bolas às quais ela chama carros, casas, árvores.
Outro que adora pegar na nossa mão e beijar.
Outro que come tudo e depois ainda vai com os dedos apanhar os restício que sobram no prato, no tabuleiro, e por aí fora.
Às vezes rio-me com eles. Têm imensa graça mas quando entram no autocarro para voltarem para casa e eu vou embora também, sinto que saí de outro mundo.
Por vezes, dou por mim a imitá-los inconscientemente. Na sala de convívio, eu sentada ao lado de um menino que balança todo o dia. Às tantas, já eu balanço também.
A verdade é que é extremamente esgotante estar com eles mas gratificante.
Nunca senti que precisassem tanto de mim como agora.
O bem estar dos meninos depende de nós.
No início foi complicado. Não é fácil encarar a realidade que se vive aqui. Mas agora... venham as porcarias com a comida, a ranhoca, o xixi e etc... já estou imune...
Mas o melhor de tudo é o carinho que recebemos deles. São as pessaoas mais carentes, mais afectuosas que já conheci. Bem melhores, dentro das suas limitações, que muita gente com quem já me cruzei.

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